"Nunca pensei que minha história teatral tivesse alguma importância", diz ator Luiz Lugado, que desde que deixou os palcos com o "Grupo Amadores Bandeirantes" jamais se manifestou com alguém sobre o assunto. Entretanto, confiou à Agência FM seu legado histórico. Conheça história deste precursor e benemérito do teatro paulista, que trabalhou em prol de entidades e de pessoas carentes.
Nascido em Itatiba, interior paulista, no ano de 1924, mudou-se com a família ainda jovem para capital, onde ficou encantado com o charme e o glamour da época. Tudo isso talvez tenha aflorado sua veia artística e contribuido para uma incursão às artes entre as quais o teatro. Lugado, atuou em uma época em que o artista era um ser inferior sendo conferido a eles todos os adjetivos pejorativos imagináveis.
Até mesmo no seio familiar os atores e atrizes recebiam tratamento diferenciado. A bem da verdade, ele nasceu em uma família onde quase todos tinham dons artísticos pois uma irmã, Natalina Lugado, (depois Natalina Lugado Paulani, nome de casada), que nega ser irmã de Luiz Lugado, cantava rumba e outros rítmos latino. A mesma inscreveu-se no famoso programa de calouro, Peneira Rhondine, e fora gongada. Outra foi atriz ao seu lado, já (Maria Montefusco - veja convite) e um irmão era cenógrafo. Mas isso não aliviou a situação não.
PERFIL TEATRAL
Apesar de ser apaixonado pelo rádio sua chance viria mesmo no teatro, onde atuou entre os anos 40 até 1955. Atuou em vários grupos teatrais, mas o início de sua carreira deu-se no Grupo Artístico do Círculo do Ipiranga, e no Centro Independência, e neste último, encenou " Os Comediantes Unidos". Passou a integrar o grupo teatral Patriotas, tendo atuado na peça cômica "Os Transviados" e Casa de Doidos". Já no Grupo Guarani, ele atuou e dirigiu a peça "Juventude Alegre" (esquetes - atual stand up ) de sua autoria com parcerias de Vital Mancini, Wagner P. Neto e Antônio Canavese, Jr.
Em 1949, através de Rafael Franceschi, fundador do G.A.B (Grupo Amador Bandeirantes) Luiz Lugado atuaria em várias produções teatrais, sob direção do prestigioso diretor Osmar Rodrigues Cruz (1924 - 2007). Encenou textos de cunho social, drama e comédias. "Rosas de Nossa Senhora" texto de Celestino Silva, representada no Teatro dos Carmelitas (Rua Martiniano de Carvalho, 156 - SP ), ele interpretou o Carrapicho, personagem que defendia a honra de uma jovem donzela assediada. No mesmo teatro atuou em textos clássicos de escritores brasileiros e estrangeiros por exemplo de Molière ( Le Malade Imaginaire, a última peça escrita por Molière, em 1673) "O Doente Imaginário". Depois trabalharia em "Cautela com as Mulheres" de Araújo Pinheiro.
"Que Trapalhada"(Casa de Orates - autoria de Aristides Abranches) foi representada no famoso Teatro Colombo", no bairro do Brás, SP. " Almas do Outro Mundo" de Napoleão de Vitória, interpretou uma personagem complexa, algo entre o trágico e cômico, papel aferecido somente aos atores dotados de grande talento. Depois, trabalhou em Amor por Anexnis, de Artur Azevedo - texto clássico da dranaturgia brasielira -, e Pedido de Casamento, de Anton Tchekov (novembro de 1951).
Como escritor e diretor teatral, Com a saida de Osmar Rodrigues Cruz, Luiz Lugado atuou e dirigiu a última montagem da peça Rosas de Nossa Senhora. Como escritor teatral, "Juventude Alegre", levada no Cine Teatro Monumento, Rua Vieira de Almeida, 507, na capital paulistana e outros textos humorísticos como "Aconteceu por falta de Ônibus".
Devido instabilidade da carreira, responsabilidades familiares, ele teve de sacrificar o ator passando a exercer a função de bancário até aposentadoria. Mas, nos tempos vagos contiuava a exercer duas atividades ligadas a fotografia: colorista e, depois fotógrafo tendo feito vários casamentos além de vedetes do teatro Colombo, cujo temas serão abordados em outras matérias sobre o ator, o cidadão que deu fundamental contribuição à liberdade de expressão que hoje está nos palcos brasileiros.
Recordações marcantes
Do auto dos seus 86 anos o ator guarda em sua memória dois momentos que achou mais importantes. O primeiro foi quando disse sua fala, uma fala muito longa, na peça "Rosas de Nossa Senhora" que ao terminá-la foi preciso interromper o espetáculo pois o público não parava de aplaudir" recorda Lugado. O texto em que o ator se refere além de grande é comovente, pois seu personagem "Carrapicho" furta rosas de uma capela que estão aos pés de Nossa Senha para satisfazer sua amada, Agda.
Ator /Benemérito
Durante sua carreira, Luiz quase sempre trabalhou em prol dos mais necessitados, mostrando ser um artista consciênte de sua função social no país. Seus trabalhos com o grupo G.A.B. tinha como função principal arrecadar fundos para Hospitais, como Martiniano - atual São Camilo, Biblioteca do Estudante Pobre ou em prol da mendicidade. Zeloso, o ator mantém sua memorabilia guardado há 60 anos.
Assim, em 1955, ao lado do elenco de atores como Luzia Lugado, Francisco Gonçalves, Rafael francsechi, Luiza Cristófaro e Nelson Gonçalves (não o falecido cantor, mas o ator Ênio Gonçalves cujo nome verdadeiro é Nelson Gonçalves), e do fundador Rafael Franceschi, o teatro experimental do "Grupo Amadores Bandeirantes", Luiz Lugado encerraria sua contribuição não somente para dramaturgia brasileira, mas às entidades sociais, passando a exercer função bancária, ilustrador fotográfico e depois fotógrafo. (REPRODUÇÃO somente com autorização: favor contate agenciafm@gmail.com ). Fotos: Acervo do artista doado para http://www.agenciafm.com/
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